Quando crianças brincamos de pique-esconde, corremos pela rua, subimos em árvore. Na juventude, praticamos esportes e nos locomovemos a pé. A partir dos 30 anos, segundo estudos, iniciamos a fase sedentária, já que, na maioria das vezes, temos carro, trabalhamos sentados e, tendo que cuidar dos filhos, deixamos de lado a atividade física.
É onde mora o perigo, pois exatamente neste período começa o processo de envelhecimento do corpo. Especialistas apontam que, a partir desta idade, deve-se redobrar as providências para garantir uma velhice saudável e evitar doenças futuras.
“O dia a dia parece ser ingrato com as pessoas, mas é preciso enfrentar. A pessoa chega cansada em casa, querendo só sossego. O que acaba acontecendo é que quando ela vai se preocupar com a saúde em si, já tem alguma doença associada. Por isso, é preciso estimular a cultura da prevenção”, aponta a gerontóloga Keila Cristianne Trindade da Cruz, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Terceira Idade (NEPTI) da Universidade de Brasília (UnB).
Keila recomenda que um passo inicial seja dado. “Pode-se começar com atividades simples, como caminhadas regulares”, diz, lembrando que essa primeira iniciativa já melhora a circulação cardiovascular, a pressão e até a mente. “Exercita-se bastante a mente durante uma caminhada”, observa.
As atuais diretrizes da Organização Mundial de Saúde recomendam 150 minutos semanais de exercícios como caminhadas, natação ou tênis para manter o corpo saudável. Entre 20 e 30 minutos diários de atividade já são suficientes.
O estudo Association of Leisure-Time Physical Activity Across the Adult Life Course With All-Cause and Cause-Specific Mortality, feito nos Estados Unidos com mais de 300 mil pessoas entre 50 e 71 anos, demonstrou que apenas 20 minutos de caminhada rápida por dia podem reduzir em 20% o risco de morte precoce em sete anos.
Aumentando-se para 90 minutos de caminhada ou 25 minutos de corrida, a redução é de 35%. “É importante começar a olhar para si mesmo desde cedo, para garantir o envelhecimento mais saudável possível. É preciso cuidar do corpo, dos pés, dos ossos, e das articulações, especialmente”, aconselha Keila.
Saúde mental em dia
Os conselhos valem não apenas para a saúde física, mas também a mental. No caso da saúde mental, além da caminhada, Keila recomenda “saber lidar com os estresses do dia a dia, buscando tranquilidade para enfrentar, ter momentos para relaxar, como fazer meditação ou algo parecido e exercitar a memória”.

Keila Cruz, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Terceira Idade da UnB
Ela recomenda jogos de memória como palavras cruzadas e sudoku. Para quem tem parentes não alfabetizados, existem atividades cognitivas que auxiliam nesse processo, como contar histórias, rever álbuns de família e preservar os vínculos familiares, os vínculos de amizade.
Estas atividades ajudam, preventivamente, a enfrentar a temível demência, comum em pessoas da terceira idade. O fortalecimento dos vínculos familiares e de amizade, dizem os especialistas, é fundamental no processo de envelhecimento.
Nunca é tarde para começar
Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, um dos maiores especialistas em gerontologia do mundo, reforça que quanto mais cedo se prepara para o envelhecimento, melhor.

Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil
A educação, diz, é fundamental, fazendo com que desde a infância e adolescência, haja consciência de hábitos saudáveis, como alimentação e bem-estar. “Mas nunca é tarde para começar”, pondera.
Kalache, que já dirigiu o programa para o envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), diz que o Brasil, conhecido como país jovem, passa pela “revolução da longevidade” e está dando, em uma geração, um salto que países desenvolvidos levaram séculos percorrendo até verem sua população envelhecida.
A sociedade brasileira, observa ele, precisa desenvolver políticas de prevenção a doenças e promoção da saúde.
“A saúde é criada no contexto do dia a dia. Depende de onde nós moramos, vivemos, nos movemos, locomovemos e obtemos entretenimento. Isso é promoção da saúde. Saúde não é inventada no contexto só do contato do profissional, do outro lado da mesa, no centro de saúde”, aponta o gerontólogo, ao defender o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a promoção integral da saúde.
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Reportagem: correndo atrás para envelhecer bem
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Comunicação Social da FUNCEF

